SIM
André Brack Exobiologista, diretor de pesquisa avançada no Centro de Biofísica Molecular do CNRS, em Orleans, França:
A credito que, como Homo sapiens, estamos sós no universo. Os seres humanos constituem o resultado de duas evoluções: uma evolução lenta, apreciada por Darwin, resultado de uma pressão de adaptação ao meio ambiente, e uma evolução pontuada, apreciada por Stephen Jay Gould, que resulta de impactos e de cataclismo.
Esses últimos são verdadeiras contingências, das quais é praticamente impossível reproduzir a cronologia. Mas é preciso permanecer atento: a prova de uma vida extraterrestre poderia acontecer dentro de dois minutos, na forma de um sinal captado pelo programa de escuta de sinais extraterrestres (o Seti) ou pela chegada de visitantes do cosmos... um tipo de prova que tem poucas chances de se concretizar!
Em revanche, é bastante provável que a vida esteja presente lá fora, sob forma bacteriana. Muito mais que seres evoluídos, procuramos essencialmente bactérias extraterrestres. Com efeito, as condições que possibilitam a aparição de vida bacteriana não são muito exigentes: elas se encontravam reunidas na Terra quando nosso planeta era muito inóspito, e intensamente bombardeado por meteoritos.
André Brack Exobiologista, diretor de pesquisa avançada no Centro de Biofísica Molecular do CNRS, em Orleans, França:
A credito que, como Homo sapiens, estamos sós no universo. Os seres humanos constituem o resultado de duas evoluções: uma evolução lenta, apreciada por Darwin, resultado de uma pressão de adaptação ao meio ambiente, e uma evolução pontuada, apreciada por Stephen Jay Gould, que resulta de impactos e de cataclismo.
Esses últimos são verdadeiras contingências, das quais é praticamente impossível reproduzir a cronologia. Mas é preciso permanecer atento: a prova de uma vida extraterrestre poderia acontecer dentro de dois minutos, na forma de um sinal captado pelo programa de escuta de sinais extraterrestres (o Seti) ou pela chegada de visitantes do cosmos... um tipo de prova que tem poucas chances de se concretizar!
Em revanche, é bastante provável que a vida esteja presente lá fora, sob forma bacteriana. Muito mais que seres evoluídos, procuramos essencialmente bactérias extraterrestres. Com efeito, as condições que possibilitam a aparição de vida bacteriana não são muito exigentes: elas se encontravam reunidas na Terra quando nosso planeta era muito inóspito, e intensamente bombardeado por meteoritos.
O big bang realmente aconteceu?
As observações sustentam a idéia do big bang, mas isso significa apenas que se trata de uma teoria viável, e não de verdade.
Nossa hipótese de trabalho é, portanto, que a vida apareceu sob uma forma robusta, porém simples. Graças aos progressos da astronomia, sabemos que os lugares e as condições favoráveis à vida são universais.
A química do carbono, que, tudo leva a crer, está na origem da vida sobre a Terra, pode ser encontrada em toda parte. Mas se a vida surgiu em circunstâncias extraordinárias por puro acaso, então, é improvável que ela exista em outros lugares.
Como saber, enquanto não dispusermos de outro exemplo de vida surgida fora da Terra? A pista mais séria é a exploração espacial. Talvez encontremos traços de vida fóssil em Marte. Ou seres aquáticos ao redor de hipotéticas negras chaminés vulcânicas localizadas no fundo do oceano de Europa, uma lua de Júpiter.
Antes de 2050, seremos capazes de analisar a atmosfera de planetas telúricos que as próximas missões espaciais deverão descobrir. As portas do futuro estão abertas para essa questão que assombra o espírito humano. Vale lembrar que, já no século 4 a.C., Epicuro já afirmava que a Terra é apenas um entre uma infinidade de mundos!
As observações sustentam a idéia do big bang, mas isso significa apenas que se trata de uma teoria viável, e não de verdade.
Nossa hipótese de trabalho é, portanto, que a vida apareceu sob uma forma robusta, porém simples. Graças aos progressos da astronomia, sabemos que os lugares e as condições favoráveis à vida são universais.
A química do carbono, que, tudo leva a crer, está na origem da vida sobre a Terra, pode ser encontrada em toda parte. Mas se a vida surgiu em circunstâncias extraordinárias por puro acaso, então, é improvável que ela exista em outros lugares.
Como saber, enquanto não dispusermos de outro exemplo de vida surgida fora da Terra? A pista mais séria é a exploração espacial. Talvez encontremos traços de vida fóssil em Marte. Ou seres aquáticos ao redor de hipotéticas negras chaminés vulcânicas localizadas no fundo do oceano de Europa, uma lua de Júpiter.
Antes de 2050, seremos capazes de analisar a atmosfera de planetas telúricos que as próximas missões espaciais deverão descobrir. As portas do futuro estão abertas para essa questão que assombra o espírito humano. Vale lembrar que, já no século 4 a.C., Epicuro já afirmava que a Terra é apenas um entre uma infinidade de mundos!
FINAL DOS TEMPOS?
Dois cenários são previstos pelos modelos cosmológicos: o big crunch e o big rip.
Todos os objetos astronômicos - planetas, estrelas, galáxias - contidos no universo terão, sim, um fim. Como mostram as projeções, a morte do Sol, por exemplo, se Tproduzirá em cinco bilhões de anos. No final dos tempos, haverá uma extinção geral de estrelas, na forma de imensos apocalipses: explosões, implosões, etc. Ocorrerá uma enorme quantidade de cataclismos que destruirão todas as formas de vida num raio de muitos anos-luz.
Por outro lado, cedo ou tarde, as estrelas não mais se formarão, pois a matéria se torna rarefeita ao longo do tempo. Agora mesmo, na nossa galáxia, existem apenas um ou dois nascimentos de estrelas a cada ano. Dentro de 20 bilhões de anos, nenhum astro se iluminará mais. O universo será cheio de estrelas extintas: anãs brancas, estrelas de nêutrons, buracos negros. Numa escala ainda mais ampla, as galáxias se desagregarão durante colisões gigantescas.
Mas o universo não é apenas o conteúdo: é também o contenedor, o espaço-tempo. Poderá também o tempo ter um fim? Os modelos cosmológicos prevêem dois cenários para o futuro.
Após a atual fase de expansão, que já dura 14 bilhões de anos, o universo será submetido a um movimento inverso de contração e de aquecimento que o levará ao big crunch (o grande esmagamento), uma teoria segundo a qual o universo começará a contrair-se, devido à atração gravitacional, até entrar em colapso sobre si mesmo. O segundo cenário é o da expansão perpétua, que diluirá e resfriará indefinidamente o universo. Essa hipótese é favorecida pelas últimas observações.
Parece mesmo que a expansão seja acelerada pela presença de uma energia repulsiva de natureza desconhecida, a "energia sombria". O destino final do universo depende dela. Trata-se de uma constante? Ela aumenta ou diminui? Se a energia sombria decrescer no futuro, ela se tornará inferior à força da gravidade, e o universo acabará num big crunch. Se ela é superior à matéria ou constante, ela ganhará a batalha contra a gravidade. A expansão continuará para sempre. Pouco a pouco os astros extintos se converterão em buracos negros, que se evaporarão. O universo será apenas uma banheira de fótons cada vez mais frios.
Se, em revanche, a energia sombria se acelerar, o índice de expansão se tornará tão imperioso que o universo explodirá em todas as escalas: toda a matéria do universo, até mesmo os átomos, será dilacerada pela dilatação do espaço. É o que chamamos de big rip, o "grande dilaceramento", o fim definitivo da matéria, que deixará um universo vazio, sem estrutura. Certos modelos prevêem que um fim desse tipo do universo poderá se produzir em 22 bilhões de anos. Mas, no estado atual dos nossos conhecimentos, ainda nada sabemos sobre o destino final do próprio espaço-tempo.
Dois cenários são previstos pelos modelos cosmológicos: o big crunch e o big rip.
Todos os objetos astronômicos - planetas, estrelas, galáxias - contidos no universo terão, sim, um fim. Como mostram as projeções, a morte do Sol, por exemplo, se Tproduzirá em cinco bilhões de anos. No final dos tempos, haverá uma extinção geral de estrelas, na forma de imensos apocalipses: explosões, implosões, etc. Ocorrerá uma enorme quantidade de cataclismos que destruirão todas as formas de vida num raio de muitos anos-luz.
Por outro lado, cedo ou tarde, as estrelas não mais se formarão, pois a matéria se torna rarefeita ao longo do tempo. Agora mesmo, na nossa galáxia, existem apenas um ou dois nascimentos de estrelas a cada ano. Dentro de 20 bilhões de anos, nenhum astro se iluminará mais. O universo será cheio de estrelas extintas: anãs brancas, estrelas de nêutrons, buracos negros. Numa escala ainda mais ampla, as galáxias se desagregarão durante colisões gigantescas.
Mas o universo não é apenas o conteúdo: é também o contenedor, o espaço-tempo. Poderá também o tempo ter um fim? Os modelos cosmológicos prevêem dois cenários para o futuro.
Após a atual fase de expansão, que já dura 14 bilhões de anos, o universo será submetido a um movimento inverso de contração e de aquecimento que o levará ao big crunch (o grande esmagamento), uma teoria segundo a qual o universo começará a contrair-se, devido à atração gravitacional, até entrar em colapso sobre si mesmo. O segundo cenário é o da expansão perpétua, que diluirá e resfriará indefinidamente o universo. Essa hipótese é favorecida pelas últimas observações.
Parece mesmo que a expansão seja acelerada pela presença de uma energia repulsiva de natureza desconhecida, a "energia sombria". O destino final do universo depende dela. Trata-se de uma constante? Ela aumenta ou diminui? Se a energia sombria decrescer no futuro, ela se tornará inferior à força da gravidade, e o universo acabará num big crunch. Se ela é superior à matéria ou constante, ela ganhará a batalha contra a gravidade. A expansão continuará para sempre. Pouco a pouco os astros extintos se converterão em buracos negros, que se evaporarão. O universo será apenas uma banheira de fótons cada vez mais frios.
Se, em revanche, a energia sombria se acelerar, o índice de expansão se tornará tão imperioso que o universo explodirá em todas as escalas: toda a matéria do universo, até mesmo os átomos, será dilacerada pela dilatação do espaço. É o que chamamos de big rip, o "grande dilaceramento", o fim definitivo da matéria, que deixará um universo vazio, sem estrutura. Certos modelos prevêem que um fim desse tipo do universo poderá se produzir em 22 bilhões de anos. Mas, no estado atual dos nossos conhecimentos, ainda nada sabemos sobre o destino final do próprio espaço-tempo.
Devemos abandonar a TERRA?
Queiramos ou não, será preciso deixar a Terra um dia, por que o impacto da humanidade sobre o planeta se intensificará. Mas apenas uma porção ínfima poderá partir. Para ir aonde? No Sistema Solar, não será nada fácil. Na Europa (satélite de Júpiter) existe um vasto oceano, e em Marte, possivelmente, há reservas subterrâneas de água. Mas apenas pequenos grupos, como garantia da sobrevivência da espécie, poderão se instalar ali.
Em uma escala muito, muito longe, será preciso se dirigir para as estrelas. É inevitável. As sondas Pioneer e a Voyager levarão 80 mil anos para chegar à estrela mais próxima. Mas certamente, em um século ou dois, poderemos viajar mais depressa e ir mais longe. Em 50 anos os humanos já foram à Lua e construíram uma estação espacial. Preparam-se para ir a Marte dentro de 30 anos
Se chegarmos a construir naves impelidas a um centésimo da velocidade da luz, precisaremos de apenas mil anos para irmos de estrela em estrela... É muito, mas talvez possamos reprogramar a duração de nossas vidas graças ao gênio genético. Ou possamos lançar mão de um congelamento controlado, o que permitiria alongar ainda mais a duração das viagens.
Podemos garantir que, em 500 anos, o homem terá visitado todos os planetas do Sistema Solar. O mais difícil são os primeiros passos. É deixar a Terra e ir a Marte. Tudo o mais, depois disso, não será muito diferente. Quando existirem pequenos e médios "acampamentos" instalados nos diferentes planetas do nosso sistema e em alguns asteróides, a humanidade se tornará indestrutível. Ela precisará de 2 a 20 milhões de anos para se instalar em todos os planetas da galáxia: quase nada na escala da vida. E, então, a vida conhecerá uma verdadeira explosão e se espalhará em todo o universo. Nada poderá detê-la.
Queiramos ou não, será preciso deixar a Terra um dia, por que o impacto da humanidade sobre o planeta se intensificará. Mas apenas uma porção ínfima poderá partir. Para ir aonde? No Sistema Solar, não será nada fácil. Na Europa (satélite de Júpiter) existe um vasto oceano, e em Marte, possivelmente, há reservas subterrâneas de água. Mas apenas pequenos grupos, como garantia da sobrevivência da espécie, poderão se instalar ali.
Em uma escala muito, muito longe, será preciso se dirigir para as estrelas. É inevitável. As sondas Pioneer e a Voyager levarão 80 mil anos para chegar à estrela mais próxima. Mas certamente, em um século ou dois, poderemos viajar mais depressa e ir mais longe. Em 50 anos os humanos já foram à Lua e construíram uma estação espacial. Preparam-se para ir a Marte dentro de 30 anos
Se chegarmos a construir naves impelidas a um centésimo da velocidade da luz, precisaremos de apenas mil anos para irmos de estrela em estrela... É muito, mas talvez possamos reprogramar a duração de nossas vidas graças ao gênio genético. Ou possamos lançar mão de um congelamento controlado, o que permitiria alongar ainda mais a duração das viagens.
Podemos garantir que, em 500 anos, o homem terá visitado todos os planetas do Sistema Solar. O mais difícil são os primeiros passos. É deixar a Terra e ir a Marte. Tudo o mais, depois disso, não será muito diferente. Quando existirem pequenos e médios "acampamentos" instalados nos diferentes planetas do nosso sistema e em alguns asteróides, a humanidade se tornará indestrutível. Ela precisará de 2 a 20 milhões de anos para se instalar em todos os planetas da galáxia: quase nada na escala da vida. E, então, a vida conhecerá uma verdadeira explosão e se espalhará em todo o universo. Nada poderá detê-la.
Devemos instalar um telescópio na LUA?
Esta é uma pergunta cada vez mais séria e freqüente para os astrônomos, sobretudo nos Estados Unidos, depois que o presidente George Bush declarou prioritários para a Nasa projetos de reconquista lunar e de exploração planetária. A superfície da Lua, à primeira vista, pode parecer um lugar ideal para a observação astronômica. A Lua quase não tem atmosfera, as radiações provenientes dos astros não são absorvidas, as imagens óticas e em infravermelho não são ofuscadas. A ausência de ionosfera evita os cortes de ondas de rádio de baixa freqüência, que carregam informações interessantes para a cosmologia e a compreensão dos mecanismos de aceleração de partículas.
Para resumir, a Lua oferece a possibilidade de se fazer uma astronomia em todos os comprimentos de onda, e em solo fixo! Podemos sonhar com telescópios ou com redes de equipamentos extremamente grandes, capazes de analisar planetas como a Terra em outros sistemas solares. Ou detectores de raios cósmicos a 1015 elétron-volts, de rádio interferômetros de baixíssima potência, de instrumentos capazes de detectar as ondas gravitacionais produzidas, por exemplo, por ocasião da fusão de dois buracos negros.
Dúvidas, contudo, podem surgir: a poeira lunar não irá rapidamente emporcalhar as belas superfícies coletoras e os delicados mecanismos dos instrumentos? Estamos certos de que a face oculta da Lua possibilitará uma radioastronomia livre dos parasitas surgidos da atividade humana? Sobretudo, levando-se em conta os impressionantes avanços da tecnologia, não seremos já hoje mais capazes de fazer melhor e mais barato com telescópios em órbita do que montados na superfície da Lua? A única coisa certa é que a instalação de telescópios ou de equipamentos gigantes em rede oferecerão sempre uma melhor relação qualidade- preço se decidirmos construí-los... na Terra.
Esta é uma pergunta cada vez mais séria e freqüente para os astrônomos, sobretudo nos Estados Unidos, depois que o presidente George Bush declarou prioritários para a Nasa projetos de reconquista lunar e de exploração planetária. A superfície da Lua, à primeira vista, pode parecer um lugar ideal para a observação astronômica. A Lua quase não tem atmosfera, as radiações provenientes dos astros não são absorvidas, as imagens óticas e em infravermelho não são ofuscadas. A ausência de ionosfera evita os cortes de ondas de rádio de baixa freqüência, que carregam informações interessantes para a cosmologia e a compreensão dos mecanismos de aceleração de partículas.
Para resumir, a Lua oferece a possibilidade de se fazer uma astronomia em todos os comprimentos de onda, e em solo fixo! Podemos sonhar com telescópios ou com redes de equipamentos extremamente grandes, capazes de analisar planetas como a Terra em outros sistemas solares. Ou detectores de raios cósmicos a 1015 elétron-volts, de rádio interferômetros de baixíssima potência, de instrumentos capazes de detectar as ondas gravitacionais produzidas, por exemplo, por ocasião da fusão de dois buracos negros.
Dúvidas, contudo, podem surgir: a poeira lunar não irá rapidamente emporcalhar as belas superfícies coletoras e os delicados mecanismos dos instrumentos? Estamos certos de que a face oculta da Lua possibilitará uma radioastronomia livre dos parasitas surgidos da atividade humana? Sobretudo, levando-se em conta os impressionantes avanços da tecnologia, não seremos já hoje mais capazes de fazer melhor e mais barato com telescópios em órbita do que montados na superfície da Lua? A única coisa certa é que a instalação de telescópios ou de equipamentos gigantes em rede oferecerão sempre uma melhor relação qualidade- preço se decidirmos construí-los... na Terra.
<< Anterior • 23 • Próxima >>